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Morre Papa Francisco: O pastor da Misericórdia e o reformador da Igreja

Igreja Católica e mundo de luto.


Papa Francisco - Imagem: Vaticano.
Papa Francisco - Imagem: Vaticano.

Infância e formação: O caminho para a vocação


No vasto cenário da história eclesiástica, poucos nomes resplandecem com o fulgor e a profundidade de impacto como o de Jorge Mario Bergoglio, mundialmente conhecido como Papa Francisco. Nascido em 17 de dezembro de 1936, no bairro de Flores, em Buenos Aires, Argentina, Francisco emergiu das humildes raízes de uma família de imigrantes italianos para se tornar o 266º pontífice da Igreja Católica, o primeiro oriundo das Américas e o primeiro jesuíta a ocupar o trono de São Pedro.


A infância de Jorge foi marcada por simplicidade e valores profundos. Filho de Mario José Bergoglio, contador nascido em Portacomaro, na região do Piemonte, Itália, e de Regina María Sívori, dona de casa de ascendência italiana, Jorge era o mais velho de cinco irmãos: Oscar Adrián, Marta Regina, Alberto Horacio e María Elena. Crescendo em um bairro multiétnico e multirreligioso, desde cedo foi exposto à diversidade cultural e espiritual, o que moldou sua visão inclusiva e compassiva do mundo.


Durante sua juventude, Bergoglio enfrentou desafios significativos. Aos 21 anos, sofreu uma grave infecção pulmonar que resultou na remoção de parte de um de seus pulmões. Essa experiência de vulnerabilidade física aprofundou sua empatia pelos enfermos e marginalizados, uma característica que definiria seu ministério futuro. Antes de ingressar na vida religiosa, trabalhou como técnico químico, além de exercer funções como segurança e faxineiro, experiências que o conectaram às realidades cotidianas das pessoas comuns.


Papa Francisco - Imagem Arquidiocese de Uberaba
Papa Francisco - Imagem Arquidiocese de Uberaba

Sacerdócio e a liderança jesuíta


Em 1958, aos 22 anos, Jorge ingressou na Companhia de Jesus, atraído pelo carisma jesuíta de serviço e dedicação aos mais necessitados. Após anos de formação rigorosa, foi ordenado sacerdote em 13 de dezembro de 1969. Sua trajetória dentro da ordem foi marcada por posições de liderança, incluindo a de Provincial dos Jesuítas na Argentina de 1973 a 1979. Durante esse período turbulento da história argentina, conhecido como a "Guerra Suja".


Bergoglio desempenhou um papel complexo, buscando proteger aqueles perseguidos pelo regime militar. Ele teria auxiliado na ocultação e fuga de alguns religiosos e leigos ameaçados pelo governo, utilizando sua posição de liderança para intermediar diálogos e evitar repressões mais severas. No entanto, posteriormente enfrentou críticas e controvérsias sobre suas ações e omissões nesse contexto, com alguns acusando-o de não ter sido suficientemente contundente na oposição à ditadura. Apesar das divergências de opinião sobre seu papel exato, sua atuação foi reconhecida por muitos como uma tentativa de manter a Igreja próxima ao povo, sem perder a prudência necessária em tempos de perigo.


Ascensão ao episcopado e a vida pastoral em Buenos Aires


Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires, ascendendo a arcebispo em 1998, sucedendo o cardeal Antonio Quarracino. Como arcebispo, Bergoglio destacou-se por sua humildade e dedicação aos pobres. Optou por viver em um modesto apartamento, cozinhar suas próprias refeições e utilizar o transporte público, em vez das acomodações e veículos luxuosos disponíveis. Sua liderança pastoral era caracterizada por uma presença constante nas villas miseria, as favelas argentinas, onde buscava estar próximo dos marginalizados e esquecidos pela sociedade.


O reconhecimento de sua profunda espiritualidade e compromisso social levou-o a ser criado cardeal pelo Papa João Paulo II em 21 de fevereiro de 2001. Como cardeal, Bergoglio continuou a advogar por justiça social, enfatizando a necessidade de uma Igreja pobre para os pobres. Sua postura discreta, porém firme, fez dele uma figura respeitada tanto dentro quanto fora da Argentina.


Papa Francisco - Imagem Editora Vozes
Papa Francisco - Imagem Editora Vozes

O Conclave de 2013: A eleição do primeiro Papa das Américas


A inesperada renúncia do Papa Bento XVI em 2013 abriu caminho para o conclave que elegeria o novo líder da Igreja Católica. Esse conclave foi marcado por uma atmosfera de expectativa e renovação, com os cardeais buscando um líder capaz de enfrentar os desafios contemporâneos da Igreja. Em 13 de março de 2013, após cinco votações, Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa, adotando o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade, pobreza e amor à natureza.


Sua eleição marcou uma série de primeiros: o primeiro papa das Américas, o primeiro do Hemisfério Sul, o primeiro não europeu em mais de 1.200 anos e o primeiro jesuíta a assumir o papado. A escolha de Bergoglio simbolizava não apenas uma mudança geográfica na liderança eclesiástica, mas também uma nova abordagem pastoral, mais próxima dos pobres e marginalizados. Seu primeiro gesto como papa, ao pedir que a multidão reunida na Praça de São Pedro orasse por ele antes de conceder sua bênção, demonstrou a humildade e a quebra de protocolos que se tornariam marcas registradas de seu pontificado.


O pontificado de Francisco: Uma revolução na Igreja


Desde o início de seu pontificado, Francisco imprimiu um estilo pastoral e acessível, rompendo com muitas tradições protocolares. Optou por residir na Casa Santa Marta, uma hospedaria dentro do Vaticano, em vez dos aposentos papais no Palácio Apostólico. Essa escolha refletia seu desejo de simplicidade e proximidade com as pessoas, distanciando-se de um papado burocratizado e distante da realidade cotidiana dos fiéis.


Sua abordagem trouxe uma nova dinâmica para o Vaticano, enfatizando o contato direto com os fiéis e incentivando a abertura da Igreja a temas contemporâneos. Em suas homilias e discursos, frequentemente abordava temas como misericórdia, compaixão e a necessidade de a Igreja ser um "hospital de campanha" após as batalhas da vida. Essa perspectiva humanista permitiu que sua liderança fosse reconhecida por católicos e não católicos como um ponto de esperança e renovação espiritual.


Francisco também realizou mudanças significativas na forma como a Igreja se comunicava. Ao priorizar entrevistas espontâneas e discursos improvisados, sua mensagem se tornou mais acessível e direta, ampliando seu impacto sobre questões como desigualdade social, acolhimento de refugiados e cuidado com o meio ambiente. Sua insistência em uma Igreja "de portas abertas" fez com que se tornasse uma figura amada por muitos, mas também alvo de críticas dos setores mais conservadores dentro da própria instituição.


Principais encíclicas e reformas


Um dos marcos significativos de seu papado foi a publicação da encíclica "Laudato Si'", em 2015, que abordava a questão ambiental e a responsabilidade humana na proteção da "casa comum". Nesse documento, Francisco convocou todos, independentemente de crenças religiosas, a uma conversão ecológica, destacando a interconexão entre a degradação ambiental e a injustiça social. Ele denunciou a exploração indiscriminada dos recursos naturais, o consumismo desenfreado e a desigualdade no acesso às riquezas naturais, chamando atenção para os efeitos devastadores da mudança climática sobre os mais pobres e vulneráveis.


A encíclica foi amplamente aclamada por ambientalistas e cientistas, sendo considerada um dos documentos mais progressistas já emitidos por um pontífice em relação à ecologia. Francisco defendeu que a preservação do meio ambiente não deveria ser vista como uma questão política ou ideológica, mas sim como um imperativo moral e ético de toda a humanidade. Ele ressaltou a importância da responsabilidade compartilhada, instando governos, empresas e indivíduos a adotarem práticas sustentáveis e a reduzirem sua pegada ecológica.


Além do impacto teórico da encíclica, Francisco promoveu medidas concretas dentro do próprio Vaticano. Sob sua liderança, foram implementadas políticas para reduzir o desperdício, aumentar o uso de energias renováveis e fomentar a educação ambiental dentro das instituições católicas ao redor do mundo. Seu compromisso com a ecologia também o levou a participar de fóruns internacionais sobre o clima e a dialogar diretamente com líderes globais na busca por políticas públicas mais eficazes para conter a degradação ambiental.


A morte de Francisco e a continuidade de seu legado


O falecimento de Francisco marcou o fim de uma era. Sua partida foi sentida não apenas pelos católicos, mas por líderes religiosos de diversas denominações, chefes de Estado e milhões de pessoas ao redor do mundo que encontraram nele uma voz de esperança e mudança. Seu funeral, realizado na Praça de São Pedro, reuniu multidões emocionadas, que compareceram para prestar suas últimas homenagens. Durante a cerimônia, discursos de figuras proeminentes destacaram sua incansável luta pela paz, justiça social e inclusão, enfatizando o impacto profundo que deixou no mundo.


Entre os tributos prestados, muitos lembraram sua dedicação aos pobres e marginalizados, sua coragem em enfrentar desafios institucionais dentro da Igreja e sua abertura ao diálogo inter-religioso. Seu legado transcendeu fronteiras, influenciando não apenas os fiéis católicos, mas também líderes políticos e sociais que se inspiraram em sua mensagem de amor, compaixão e responsabilidade global.


Com sua morte, o Vaticano iniciou um período de transição, refletindo sobre os avanços promovidos sob sua liderança e os desafios que permaneceriam para o futuro. A memória de Francisco, no entanto, continuaria viva, perpetuada por aqueles que adotaram seu chamado à fraternidade e à construção de um mundo mais justo e humano.

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