O Golpe que não foi: como a Alta Cúpula Militar resistiu a Bolsonaro
- Raul Silva
- 19 de fev.
- 3 min de leitura
Brasília - Nos bastidores do governo de Jair Bolsonaro, um embate silencioso e decisivo ocorreu entre o então presidente e a alta cúpula das Forças Armadas. O inquérito PET 12.100 do Ministério Público Federal revela um minucioso plano de ruptura democrática e a resistência encontrada entre generais que, em momentos críticos, optaram pela legalidade.

A Pressão sobre os Comandantes Militares
Desde 2021, Bolsonaro e seus aliados buscaram apoio das Forças Armadas para minar o sistema eleitoral e criar um ambiente favorável à intervenção militar. Segundo a denúncia, há registros de reuniões onde "o Presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional" e buscou persuadir os líderes militares a aderirem ao plano golpista.
Em um dos encontros, foi cogitada a possibilidade de o presidente "abertamente passar a afrontar e a desobedecer a decisões do Supremo Tribunal Federal". Para garantir apoio, Bolsonaro contava com oficiais de alta patente e tentou, por diversos meios, convencer os comandantes das Três Forças a alinharem-se ao projeto.
A Rejeição ao Golpe
No entanto, a resistência veio de dentro. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica se mostraram intransigentes quanto à constitucionalidade das ações propostas. Um dos pontos altos da crise ocorreu quando, segundo o inquérito, o então Ministro da Defesa "reuniu os Comandantes militares para lhes propor ato consumativo de golpe", encontrando oposição dos chefes do Exército e da Aeronáutica. Apenas o Comandante da Marinha teria expressado apoio.
Em outra tentativa de convencimento, um general de prestígio entre os militares afirmou que "o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições", sinalizando que qualquer movimentação deveria ocorrer antes da oficialização da derrota de Bolsonaro nas urnas. Ainda assim, os comandantes legalistas se mantiveram firmes.

A Articulação Final
A pressão atingiu seu ápice após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições de 2022. Com a iminência da transição, Bolsonaro e aliados intensificaram as tentativas de mobilização das Forças Armadas. Segundo o inquérito, houve "reuniões sigilosas de oficiais ligados às Forças Especiais, que buscavam meios de persuadir a alta cúpula militar a aderir ao golpe". A estratégia envolvia "ataques virtuais a oficiais contrários à ideia e pressão psicológica sobre o Alto Comando".
A resistência culminou na rejeição formal do plano golpista. Em resposta às pressões, os comandantes emitiram sinais claros de que não participariam de nenhum movimento fora da Constituição. O inquérito aponta que "diante da recusa da alta cúpula do Exército e da Aeronáutica, a organização criminosa concentrou seus esforços na exploração de narrativas falsas sobre fraudes eleitorais e na mobilização da base bolsonarista".
O Dia 8 de Janeiro e o Fim da Tentativa
Com a tomada de posse de Lula em 1º de janeiro de 2023, os planos golpistas encontraram sua derradeira oportunidade nos atos de vandalismo de 8 de janeiro. Apesar da violência perpetrada pelos manifestantes, "a tentativa de obter respaldo militar para um golpe já havia sido frustrada pela rejeição dos comandantes".
Com base nos fatos apurados, o MPF sustenta que "o inquérito revela atentado contra a existência dos três Poderes e contra a essência do Estado de Direito Democrático". O papel da alta cúpula militar foi decisivo para que o golpe não se concretizasse.
A resistência dos comandantes militares ao chamado de Bolsonaro e seus aliados evitou um dos momentos mais críticos da história democrática do Brasil. Se por um lado havia intenções golpistas claras, por outro, a força da legalidade prevaleceu. O inquérito PET 12.100 expõe, com riqueza de detalhes, como uma crise institucional foi evitada por uma decisão essencialmente militar: respeitar a Constituição.
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